Por Alexandre Melo e Cynthia Malta
Este ano, a empresa Procter & Gamble importou 90 cientistas venezuelanos e suas famílias, para trabalhar ao lado de 30 pesquisadores brasileiros. Com isso, o maior fabricante de produtos de consumo do mundo, transferiu-se de são paulo para a cidade de Arequipa, no interior de São Paulo, o laboratório de desenvolvimento de produtos para a América Latina. A dificuldade de operar um laboratório de pesquisa no país governado por Nicolás Maduro, apesar de que ainda mantenha a produção local, motivou a decisão. O Brasil é hoje o terceiro maior mercado de P&G, que vai fazer investigações em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O centro de inovação será oficialmente inaugurado no início de 2019, mas os cientistas venezuelanos e brasileiros já estão trabalhando. Juntos, nos últimos seis meses, ajudou a desenvolver um novo protetor diário feminino da marca Always e uma nova versão de fraldas Pampers. O próximo objetivo é a Gillette. “A intenção é acelerar os lançamentos”, afirma Juliana Azevedo, presidente da P&G no Brasil desde janeiro. A multinacional demorava até dois anos para lançar produtos. O prazo agora é de até nove meses.
O investimento no centro de inovação, que pode criar um produto a partir do zero, ou tropicalizar uma carteira global, é de R$ 150 milhões. Engenheira industrial e advogada, Juliana começou a trabalhar na área de marketing da P&G há 22 anos. Passou os últimos três anos trabalhando na matriz, nos Estados Unidos, onde comandou a divisão global de produtos femininos. Antes disso, saiu na mesma área no mercado latino-americano. Durante anos, manteve uma rotina dura. Às segunda-feira, levantava às 3 da manhã em São Paulo, onde morava com seu marido e seu filho, fazia seu ginásio e se dirigia para a Cidade de Panamá, onde a P&G mantém escritórios para a América Latina. Viajou por toda a região. “Eu Pude fazer isso porque minha mãe me ajudou, levava e buscava meu filho na escola. Agora é mais fácil”, diz Juliana. No trabalho, o desafio que tem pela frente não parece nada fácil. Juliana quer dobrar a participação de mercado dos produtos da P&G no Brasil, agora em cerca de 16%.
Em outros mercados em desenvolvimento, como o México, o fabricante das marcas Pantene, Ariel e Head&Shoulders tem a cota de 30% nas categorias em que atua. Juliana diz que não é possível prever quantos anos serão necessários para atingir esta meta, mas tem que certificar-se de que é possível. No Brasil, a P&G é a empresa que mais vende fraldas. Tem 30% do mercado, segundo a consultoria Euromonitor. Do segmento de beleza e cuidados pessoais, tem 5%. Em produtos para a casa, como o sabão em pó e amaciante para roupas, por exemplo, a taxa tímida, em torno de 3%. Para tirar a sua estratégia, Juliana decidiu fazer um acompanhamento de toda a operação de perto.
As quatro fábricas e os centros de distribuição da P&G no Brasil respondiam apenas para o Panamá, sede da P&G na América Latina. A partir de janeiro, além dos 17 executivos que reportam diretamente a Juliana, mais de 30 diretores de fábricas e centros de distribuição são convocados para reuniões a cada dois meses. As metas de produção e vendas são checadas mensalmente. “Esta foi uma das mudanças essenciais neste mercado cada vez mais competitivo”, diz ela, a primeira mulher a comandar, durante a greve dos caminhoneiros por 11 dias, entre maio e junho deste ano. Os envios de produtos da P&G foram interrompidas por duas semanas. Mas se esse período fez a empresa perder vendas para o próximo trimestre trouxe boas notícias. As vendas cresceram a uma taxa de dois dígitos de julho a setembro, em relação a igual período de 2017. “Já estamos vendo sinais de retomada da atividade econômica no país”, diz o presidente da P&G.
Globalmente, a empresa aumentou o lucro e a receita se manteve estável no primeiro trimestre fiscal. Em agosto, quando registrou-se um aumento de renda, mas a queda do lucro no quarto trimestre fiscal, o executivo global de finanças Jon Moeller anunciou uma nova estratégia: aumentar os preços de suas principais marcas. A decisão, segundo ele, foi motivada pela escalada dos preços de insumos, como a celulose, papel e energia, além das variações das taxas de câmbio. No Brasil, a P&G já reajustou para cima os preços de fraldas e produtos masculinos -a empresa é dona dos aparelhos de barbear Gillette. Os próximos aumentos estão programados para desodorantes, shampoos e condicionadores de cabelo, amaciadores para a roupa. O brasileiro troca facilmente de marca quando o produto que costuma comprar mais caro. Mas, mesmo com os aumentos recentes, em linha com a inflação, a P&G está conseguindo manter o crescimento nas vendas. Juliana diz que quer oferecer produtos em todas as faixas de preços, formando uma “carteira vertical, com ‘tier’ [capas] para todos os tipos de consumidor”.
O executivo planeja levar a cabo no Brasil, nos próximos 12 meses, os produtos para a incontinência urinária. A P&G é o líder desta categoria nos Estados Unidos e na Europa. Antes de assumir a posição no Brasil, Juliana também cuidava desse tipo de produto, a nível mundial. Também está em seus planos de nacionalizar mais itens da marca Oral-B que batiza com escovas de dentes e creme dental, entre outros. A fábrica da P&G no Rio de Janeiro está recebendo mais investimentos neste ano para isso. Para 2019, um outro desafio será o de incorporar a operação da divisão de saúde humana adquirida pela alemã Merck, aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em junho. “A P&G opera em medicamentos sem receita médica, como a Vick e Metamucil. Portanto, será uma experiência nova para vender medicamentos que necessitam de receita”, diz Juliana.
Fonte: Jornal Valor Econômico De São Paulo
Fonte: panoramafarmaceutico.com.br/2018/10/22/pg-importa-90-cientistas-para-acelerar-investigações